segunda-feira, 27 de maio de 2013

Quando tudo o que pode correr mal...

Passada uma noite (mal dormida) sobre o fim da época 2012/2013 chegou a altura de fazer um balanço. Sei que nunca se devem tomar decisões a quente nem fazer análises quando a dor é demasiada. Mas quero aproveitar esta avalanche de emoções e sentimentos para deitar cá para fora o que sinto antes que o tempo as apague e a razão substitua o coração.

E quero que o coração fale mais alto neste momento. Porque por muito racional que possa ser, o Benfica sente-se com o coração e com a alma. Vem cá de dentro do nosso mais intimo e é daí que escrevo este texto...

Começámos a época com um meio-campo vazio e a defesa a coxear! Convém não esquecer que nos últimos dias do mercado (quando já dificilmente podíamos comprar um jogador alternativo) vendemos Javi Garcia e Witsel. Para além disso conseguimos chegar a Setembro sem contratar um defesa esquerdo que fizesse esquecer o (muito) mau Emerson. Para além disso vimos o nosso capitão envolvido num caso de "agressão" a um árbitro alemão durante a pré-época. Feitas as contas, o princípio do ano futebolístico tinha tudo para dar errado e...não deu. Sim, a fase de grupos da Liga dos Campeões foi sofrível mas no campeonato, tirando o habitual empate no 1º jogo, a equipa foi crescendo, os lugares vazios no meio-campo foram sendo preenchidos pelos enormes Enzo Perez e Matic (que grande época de ambos), Melgarejo foi crescendo a imitar Fábio Coentrão, Jardel foi chegando para as encomendas (com uma ajuda tremenda de Garay, outro dos grandes este ano). Ainda tivemos tempo para ver aparecer e convencer os jovens André Gomes e André Almeida que preencheram lacunas e nos fizeram lembrar que ainda somos uma equipa portuguesa. Salvio na direita entrou em grande e mostrou que valeu a pena o investimento. Do outro lado Gaitan demorou a aparecer, Bruno César nunca surgiu (tendo sido normal a saída) e Ola John tem muito potencial mas igual necessidade de progredir para lá chegar. Na frente vimos um Rodrigo abaixo do que nos habituou mas um Cardozo de alto rendimento. E Lima que veio sem se perceber bem porquê (havia outras lacunas) provou, pelo menos a mim, o quanto estava errado a respeito dele... Artur não teve rival e durante 98% da época esteve bem (não entendo alguns lapsos no jogo de pés contra o FC Porto na Luz, na Final da Taça e em alguns momentos pontuais) mas tem capacidade para muito mais.

Fique desiludido com a prestação na fase de grupos da Liga dos Campeões, agradado com o futebol jogado em quase todos os jogos, tocado com o querer e a ambição mostrada na Liga Europa (a lembrar: Leverkusen, Bordéus, Newcastle, Fenerbahce e Chelsea). Chegar aos últimos jogos da época e, depois de tudo, poder vencer 3 competições parecia um sonho!

E depois não vencer nada:
6 de Maio - Empatar em casa com o Estoril quando uma vitória nos dava descanso de pernas e cabeça para o jogo com o FC Porto foi um erro tremendo. O Estoril teve mérito (e uma recompensa financeira vinda do norte...) mas nós fomos pouco ambiciosos. Entrámos bem no jogo mas depois deixámos o tempo correr sem marcar (para depois sofrer e ter que correr ainda mais...).

11 de Maio - Marcar primeiro que o Porto para depois sofrer o empate com Artur a ficar mal na figura. E depois esperar aguentar o empate durante mais de 60 minutos é convidar ao desastre. Porque a dinâmica do Benfica é ofensiva, logo esta equipa não está talhada para defender resultados e perde a sua eficácia nesse tipo de jogo. O golo aos 92 minutos quando o campeonato estava controlado é pesado demais mas uma lição para o futuro: o Sport Lisboa e Benfica não defende resultados nem nas Antas, nem na Conchichina, perceberam!

15 de Maio - Final da Liga Europa. Uma atitude tremenda da equipa, mudando totalmente o chip e abordando o jogo da forma mais correcta: Para vencer!!! Muitas ocasiões para marcar e perdoamos. Estivemos bem até aos 60 minutos e depois... bem depois o adversário marca contra a corrente do jogo e as pernas parecem quebrar. Ainda empatamos mas, pelos esforços a que fomos obrigados contra o Estoril e o Porto, o motor já não dá mais. Quando estamos a gerir o resultado para aguentar até ao prolongamento, mais um golo nos descontos... O fim de um sonho que, esse sim, merecíamos melhor. Mas perdemos contra um grande Chelsea, matreiro mas ainda naquele momento o campeão europeu em título.

19 de Maio - Último jogo do campeonato em casa com o Moreirense, precisamos vencer e esperar um milagre em Paços de Ferreira. Que não aconteceu. Fim de festa, um sabor amargo na boca pelo que podia ter sido mas não foi... Aqui a época já estava perdida, faltava a Taça mas isso, mesmo ganha, seria sempre pouco. Mais um título perdido para o Porto quando estivemos 4 pontos à frente, mais uma oportunidade perdida.

26 de Maio - Final da Taça, uma equipa batida em toda a linha nos últimos jogos, um tabu sobre a continuidade ou não do treinador que desfoca a atenção do essencial: as finais são para ganhar. Não jogámos bem e depois de marcarmos com alguma sorte achámos que era suficiente. Esquecemo-nos que este Vitória de Guimarães é uma equipa sofrida, com jogadores vindos da equipa B, que venceu vários adversários na Taça depois do prolongamento e fez exibições de raça e dor na Liga. Eles nunca iriam desistir como nós fizemos... E venceram justamente!

 A noção clara que o melhor Benfica dos últimos 20 anos não é suficiente para um Porto mediano, cumpridor é certo, mas longe de outras equipas do passado recente. Jorge Jesus falha nos momentos decisivos, parece ter medo quando a equipa já lhe mostrou que sabe enfrentar a pressão com a melhor das armas: coragem! Se perdemos estes jogos, estas finais foi porque lá chegámos. Isso não conta muito para um clube que tem no seu ADN, na sua Mística o ganhar.

Porque falhámos? É fácil fazer análises depois do jogo ou do campeonato. O futebol nacional está cheio de comentadeiras que a troco de 30 dinheiros botam o discurso encomendado pelos seus patrões. Não vou armar o discurso moralista mas penso que a razão principal para a instabilidade no fim da época tem uma razão principal: o processo de renovação de contrato com Jorge Jesus!

Passo a explicar. Luís Filipe Vieira quis que Jorge Jesus renovasse. Mas para acalmar vozes contra esta hipótese (e que há muito pugnam pela saída do treinador) propôs a Jesus a redução de salário. Aumentavam-se os valores variáveis mas o fixo recebia um corte de, dizem, cerca de 30%. Esta proposta, feita a tempo e horas, desagradou a Jesus. Que fez o que achou melhor:
1) Vou vencer o que posso vencer para aumentar o meu valor e, aqui ou noutro lado, não fico pior do que estou
2) Alimentando o tabu e mantendo em aberto outras possibilidades (o Porto, sempre o Porto) pode ser que, a medo, ainda consiga melhorar o que tenho hoje.

O processo arrastou-se demasiado. Porque o Benfica depende em demasia do treinador para singrar, para que o projecto cresça. Ainda não estamos numa fase em que possamos vencer e crescer apenas pela estrutura do clube. Isso é notório mas devia ser ao contrário. Se Jorge Jesus não aceitou as condições o processo devia ter sido fechado (a bem ou a mal) pelo clube (que é quem manda, bolas). Jesus tem demasiado poder e sabe-o bem. Vieira reconhece-o, sabe o valor que ele tem e amedronta-se por pensar perder Jesus para o Porto. Pinto da Costa jogou sempre nesta hipótese para abalar a estrutura do Benfica (que já não aconteceu desta vez) e para, no limite, inflacionar o valor de Jorge Jesus ou ver este cair-lhe no colo.

Passar pelos jogos decisivos da época com esta nuvem no horizonte criou, na minha opinião pessoal, a instabilidade que a equipa não precisava e deu razões de sobra para que, agora, se mostre a porta de saída a Jorge Jesus.

E agora? Não faço juízos de valor e ainda estou com os sentimentos demasiado à flor da pele para emitir uma opinião formada. Tecnicamente e tacticamente, Jorge Jesus é bom, sabe o que faz. Tenho algumas dúvidas na sua capacidade estratégica de planear uma época (deu exemplos repetidos disso). Acho que aprende devagar com os erros que comete e custa-lhe admitir isso mesmo. Tem talento a moldar e a descobrir capacidades em jogadores e isso viu-se, em especial este ano, ao "inventar" um meio-campo.

Tirando isso penso que este final de época, desastrado, lhe retirou espaço para continuar com a paz e com a calma que uma nova época exige. Contudo Luís Filipe Vieira jurou a pés juntos que Jorge Jesus é o seu treinador. Mais, Pinto da Costa é a Nemesis do presidente do Benfica e joga esse papel na perfeição. Vieira prefere assinar com Jesus para impedir a ida deste para o norte a abdicar dele quando tudo aponta e aconselha nesse sentido...

Vai ser uma pré-época interessante!!!

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